Viva e deixe viver...

Viver é como estar constantemente no "país das maravilhas", por isso estou sempre no limite da razão, porque a vida é bela, insana e incerta, e como diria um cantor: " depende de como você a vê..."

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sobre Meninos e Lobos


Quando iniciei a faculdade assisti a muito filmes interessantes que eu não assistiria se fosse por escolha própria, simplesmente porque ao sentar num sofá para assistir um filme, o fazemos para aliviar um pouco a tensão.
E bem, "Sobre meninos e lobos" é o oposto de aliviar a tensão, é um filme muito tenso, very, very... é daqueles que pesa no coração depois que você termina de assistir, mas é um filme brilhante e sensacional.
O Começo do filme traz uma cena bem típica, três garotos brincando, ou melhor, aprontando na vizinhança, porém logo de cara um acontecimento muda a vida de um deles e afeta a dos outros dois.
Jimmy, Sean e Dave, são três amigos que vivem em um bairro no suburbio de Boston e tem suas vidas separadas, quando Dave é raptado por dois homens que se passam por policiais ao verem as crianças aprontando na rua, os censura e solicita que Dave entre no carro para que eles conversem com sua familia, no entanto os dois homens na verdade são pedófilos que sequestram Dave e o mantem em cativeiro. Dave é abusado sexualmente durante quatro dias, até conseguir escapar da mão de seus raptores.
Após esse começo tenso, a história torna-se passado, e os três garotos, agora homens, seguem suas vidas de forma distintas.
Jimmy (Sean Penn), torna-se um comerciante local com ligações mafiosas, Sean (Kevin Bacon) se torna um agente do FBI e Dave (Tim Robbins - sempre em atuações perfeitas), o menino abusado sexualmente, cuja experiência traumatica o acompanha, se torna um adulto quieto e recatado, esses três garotos cuja amizade foi brutalmente interrompida, tinham perdido contato após os acontecimentos, porém um evento trágico faz com que seus caminhos novamente se cruzem.
A filha de 19 anos de Jimmy é brutalmente assassinada, o detetive Sean e seu parceiro entram no caso, paralelamente a máfia local - comandada por Jimmy- incia sua propria investigação para agarrar o culpado antes da polícia.
A partir daí, uma sucessão de fatos, faz com que a vida deles seja revirada, abrindo feridas antigas e entrelaçando destinos.
O filme aborda os traumas, a desconfiança, os medos, o egoísmo, a impotência, a dor e o ódio e o amor enquanto catalizadores.
Aliás diga- se de passagem que o título caiu perfeitamente no filme, pois é precisamente uma história sobre meninos e lobos, o que até me lembra uma frase de Thomas Hobbies: "o homem é o lobo do homem", é o único animal que destrói a própria espécie.
No filme é tudo muito verdadeiro, forte e cru, a história chama a atenção para as escolhas, as possibilidades da vida e para o fato de que uma pequena decisão pode mudar toda a sua vida.
Trata claramente de como um trauma de infância pode afetar a sua vida e daqueles que estão ao seu redor.
Nesse contexto, vale a pena reprisar a fala do personagem de Kevin Bacon, quando ele diz que "naquele dia, nós três entramos naquele carro". Gosto de como soa verdadeiro isso, pois de alguma forma aquilo afetou não só a Dave, mas a vida de Sean e Jimmy também. É inevitável não pensar, no que aconteceria se fosse Sean ou Jimmy que entrasse naquele carro, como isso afetaria as suas vidas, como eles lidariam com a situação.
Esse filme é forte e reforça a nossa impotêcia diante da maldade humana, trazendo-nos questões relacionadas a subjetividade, mostrando o mundo interno de cada individuo, seus sentimentos, pensamentos e emoções.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Geração Prozac

Geração Prozac é um desses filmes muito interessante e altamente recomendável. Baseado num best - seller americano "Prozac Nation" da escritora Elizabeth Wurtzel, ele conta a história de uma "crise depressiva" da personagem/autora do livro.
O filme é narrado em primeira pessoa, pela própria personagem, apresentando seu universo, tal como ela o sente.
Elizabeth, ou "Lizzie", é uma escritora, que está indo para a Universidade de Havard. No decorrer do filme, nos é apresentado alguns traços da vida de Lizzie e de sua personalidade, que nos ajudam a entender seu mundo, tais como: ela tem uma relação conflituosa com a mãe, que, diga-se de passagem, quer consertar os erros através da filha. Essa relação conflituosa decorre da relação conturbada mãe - pai. Dado interessante: o pai as abandonou e a mãe sentia ciúme da filha.
Lizzie tem uma relação condescedente com o pai, ainda que este o tenha abandonado quando pequena e que raramente a procurasse, no instante que ele o faz, toda a dor dela desaparece, porque naquele momento só o que importa é o pai.
Na universidade ela começa a usar drogas recorrentemente e tem uma vida sexual um pouco promiscua, para os padrões da época.
Lizzie é uma escritora, uma excelente escritora, ela ganha um prêmio na universidade por um artigo, sendo inclusive convidada para escrever para uma revista de renome.
Um dado interessante sobre sua capacidade de escrever, é o porque dela escrever. Quando ela escreve, ela o faz com a intenção de escapar dos demônios em sua cabeça. Numa cena muito intrigante, aliás, bélissima atuação de Christina Ricci, Lizzie tem uma crise violenta de depressão, em que ela passa dias sem dormir, simplesmente porque nada que ela escreve parece bom o suficiente, e ela tenta desesperadamente voltar a perfeição de sua escrita, porque só a sua escrita pode salvá-la, um amigo a tenta ajudar, fazê-la voltar a razão, mas ela surta, então ele a leva a um consultório psiquiatrico.
Nesse momento, o telespectador passa a compreender o processo de Lizzie, para ela o mundo parece se desprender, como uma imagem desfocada e sem som. Quando ela esta exausta, quando o mundo a oprimi, ela quer contar para o mundo como se sente, mas ela não consegue escrever, e as pessoas não a entendem, e isso só faz piorar a sua loucura interior.
Durante a terapia, ela fala sobre a sua necessidade de escrever, sobre o fato de que ninguem a entende, simplesmente porque ninguem saber como é ser ela. Em palavras da personagem "a maioria das pessoas se cortam, colocam um curativo e seguem em frente, eu continuo sangrando", para ela "gradualmente e de repente" é como a depressão chega.
A psiquiatra que a atende, passa pra ela o Prozac, daí o nome do filme, um remédio que a deixa confortável, mas a torna alguém que ela não é. O remédio serve para controlar a depressão quimica que causa um transtorno de humor, aliviando suas "crises depressivas".
Digo, "crise depressiva" assim mesmo com aspas e tudo, porque muito embora o filme traga o diagnóstico de Lizzie como um Transtorno de Humor, no decorrer do filme é possível pensar nesse diagnóstico de forma diferenciada, como talvez um Transtorno de Personalidade Borderline.
Explico, de forma bem simplória, o Borderline é uma psicopatologia de fronteira, ele está no limiar, entre a Psicose e a Neurose, é, portanto, um transtorno de limite que tem como caracteristicas: o medo de ser abandonado, seja ele real ou imaginário, uma necessidade constante de não estar sozinha, problemas de auto - imagem e de afetividade, volatilidade de humor muito peculiar, cujas oscilações vão do nada ao tudo em poucos minutos.
No fílme é comum ver essas oscilações de humor vindas de Lizzie, seja na sua relação com a mãe, em que durante uma briga ela externa sua raiva de forma intensa e uma angústia sem limite de forma extremamente bipolar, culpando a mãe num segundo e implorando seu perdão no segundo seguinte.
Suas relações são extremas, não só com as pessoas, mas com o mundo que a cerca, para Lizzie a culpa e/ou salvação de seus problemas está sempre no outro, é o outro quem dá o contorno de si mesma.
Isso é bem visivel no filme, seja na relação com a mãe, que por mais conturbada possivel, é para ela que Lizzie sempre pode voltar, ou na relação doentia com o namorado, o qual se torna seu objeto de investimento, aliás, característica marcante do Border, ele investe de tal maneira no objeto que este não pode falhar.
Lizzie ama demais, sofre demais, tem baixa tolerância a frustração, não tem limite. Seus feitos são sempre extremos, mas seus erros são catastróficos, tem ambivalência em demasia:
ela agride, ela se sente culpada, ela quer e ao mesmo tempo não quer. Sua depressão é reativa, não de tristeza, mas de raiva, ela é hostil com as pessoas, pois essa hostilidade é a forma que ela encontrou de encarar a vida.
Ela tem dificuldade de se perceber, ela não consegue se ver como um ser pertencente, não se sente comum, normal, há um distanciamento da realidade objetiva e concreta. Além disso, ela oscila muito entre ser super e nada.
Lizzie sente um medo desmedido de rejeição, então ela mantém as pessoas afastadas dela e ao mesmo tempo ela não pode ficar sozinha, então ela investe, investe e investe na pessoa, pra que não importa o que ela faça, ela seja sempre compreendida, porque ela precisa desesperadamente do outro.
Há uma cena que acho particularmente brilhante, não tanto pela cena, mas pela frase dita por uma amiga de Lizzie, e por tudo que essa frase significa, todo o peso que ela carrega, aquela coisa de verdades não ditas, sabe?!
Na cena em questão, elas estão num café, e a amiga tenta conversar, tornar o clima mais leve, Lizzie no auge da sua arrogância ou de seu surto, começa a ridicularizar a amiga, dizendo que ela não pode entender porque ela não sabe sentir como ela, a amiga cansada da humilhação acumulada por um longo tempo, apenas diz: "Deve doer ser você!"
Lizzie retorna a terapia e sua recuperação é lenta e da mesma forma que ela desmoronou, ela retorna "gradualmente e de repente".
Filme na categoria: J'adore!

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Talismã e A Casa Negra

Como todas as pessoas do mundo, tenho preferências por livros e escritores, leio quase tudo que me apresentam de outdoor à Bíblia, e isso se deve ao fato de que eu amo as palavras, simplesmente porque elas me fascinam.
Tenho alguns (muitos) livros, vou sempre a feiras de livros, sebos e livrarias e faço algumas aquisições.... possuo mais livros do que lugar para guardá-los, e leio e releio quantas vezes me der na telha;
Sim, já cheguei a ler o mesmo livro uma dezena de vezes, só por ler... "O Talismã" e sua sequência "A Casa Negra", são dois desses livros que sempre eu me pego folheando, mesmo eu conhecendo a história de trás pras frente.
Sou sempre suspeita ao falar de Stephen King, pois já li quase tudo o que publicou, tenho uma coleção de livros dele que ocupa algumas prateleiras da minha estante de livros (que diga-se de passagem não aguenta mais o peso de livro algum).
A verdade é que minha relação com os livros do autor é visceral!E com esses dois é mais especial ainda, por que? Porque foi o primeiro dele que li, foi o livro que me introduziu ao mundo do King. Quem conhece o estilo muito peculiar do autor, sabe que esses dois livros não tem absolutamente nada a ver com o estilo dele...hahahah
Mas você consegue sentir a mão do King em toda história, é a união do mundo fantástico do Straub com os personagens marcantes de King.
"O Talismã" é a história de um garotinho em busca da salvação de sua mãe, a história se passa no nosso mundo e num mundo paralelo, onde ele enfrenta perigos e participa de aventuras, mas é mais que isso, é uma história sobre valores, sobre comprometimento.
Nesse primeiro livro, King e Straub, apresentam o mundo nu e cru, com situação tão aflitivas para uma criança que nos fazem sofrer juntamente com o personagem e torcer por ele. A história traz o crescimento do personagem diante das situações enfrentadas, ele sai garoto de seu ponto de partida e retorna crescido, mas não tão crescido, porque como disse King: por ser a história de um garoto, ela deve terminar aqui, enquanto ele ainda é um garoto ( ou algo do tipo).
Já "A Casa Negra", aliás, curiosidade, foi escrita uns 18 anos depois de "O Talismã", e traz Jack, personagem do livro, já adulto. Esse é um livro pesado, que traz a maldade do ser humano, que despedaça vidas;
Penso que a soma do universo de Straub e os personagens marcantes de King deu muito certo, suscita em nós os sentimentos mais controversos possíveis, personagens que amamos e odiamos de forma tão intensa que a vontade é de entrar no livro e fazer algo!
Outra coisa legal dos livros do King, é que os personagens se repetem em outros livros dele e sempre de forma coerente;
Na minha opinião vale sempre a pena ler.
Dou nota máxima pra esses dois livros!