Viva e deixe viver...

Viver é como estar constantemente no "país das maravilhas", por isso estou sempre no limite da razão, porque a vida é bela, insana e incerta, e como diria um cantor: " depende de como você a vê..."

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

A hora do lobisomem - Stephen King


Fiz uma resenha deste livro no Canal C.Thiari - Book's Anatomy e você pode conferir aqui. Inscreva-se no canal e acompanhe as atualizações.

A hora do lobisomem (cycle of Werewolf) foi um livro publicado originalmente em 1983 e tem um formato de contos divididos no ano. Cada mês do ano representa um conto sobre o ciclo do lobisomem que aterroriza Taker's Mills. Stephen King é um autor muito versátil e escreve de tudo, ele é competente em diversificar sua obra, embora seja conhecido como o mestre do horror.
Considero esse um livro bem diferente do Stephen King, principalmente porque por ser contado em formato de contos, não há muito espaço para o desenvolvimento dos personagens, então não é um livro em que você se apega aos personagens.
O livro é sobre mortes que vem acontecendo sempre no ciclo da lua cheia, porém ninguém consegue descobrir o responsável por assassinar essas pessoas. O personagem que tem maior importância é o Marty Coslaw, um garoto paraplégico, que é atacado pelo lobisomem, porém ele o fere no olho e consegue não ser morto. Tendo uma única pessoa na cidade usando um tapa olho após esse ataque, Marty descobre quem é o lobisomem e começa a enviar cartas anônimas para ele, informando que conhece seu segredo.
Daí se desenrola a história em que o lobisomem precisa proteger sua identidade e ninguém, além do tio de Marty Coslaw que também não é muito levado em consideração, acredita no Marty sobre haver um lobisomem a solta.
É um livro competente, porém não é um livro que eu leria mais de uma vez (eu li mais de uma vez, porque li novamente a nova edição que saiu da Biblioteca King);


Tem um filme também de 1985, que recebeu o nome de Bala de Prata (Silver Bullet) e que é bem boa a adaptação, eles modificaram a forma de narração e alguns aspectos porque obviamente são mídias diferentes, mas que no fim ficou uma boa adaptação.

CUJO - Stephen King



Fiz uma resenha deste livro no Canal C.Thiari - Book's Anatomy e você pode conferir aqui. Inscreva-se no canal e acompanhe as atualizações.


Eu não canso de dizer o quanto eu amo Stephen King, ele é o meu autor favorito. Sou completamente obcecada pelos livros dele, o que não quer dizer que eu adore tudo que ele faça, mas certamente leio.
Dito isso, Cujo não é um dos meus livros favoritos, gosto da história, mas li só umas duas vezes (o que é uma medida para o quanto eu gosto - sou dessas que lê milhares de vezes a história até respirar os personagens).
O livro saiu nessa edição linda da Biblioteca King - Suma de Letras e foi publicado originalmente em 1981.
O livro traz a história de Cujo - um cão da raça São Bernado, com esse nome mega esquisito e que é um cachorro super bonzinho, mas que ao ser mordido por um morcego adquire raiva e se transforma num monstro ensandecido.
Cujo é um dos livros de Stephen King que não trazem essa coisa do sobrenatural tão presente na obra do king, o angustiante nesse livre é a tortura psicológica vivenciada pelos personagens ao não ter como escapar do desejo assassino de cujo.
Além disso, você acompanha o cotidiano e as histórias dos personagens o que é sempre um bônus nos livros do king, pois o melhor do stephen king são os personagens.
Os personagens de importância são a família Trenton, composta pelo Vic, Donna e Tad; e a família Camber, composta pelo Joe, Charity e Brett (dono do cujo).


Tem um filme também de 1983 que é uma adaptação muito boa da obra, embora com todas as questões de ser um filme antigo (imagem, atuação).

As Três Marias - Rachel de Queiroz



O livro As três Marias, indicação de novembro da TAG-Experiências Literárias e traz a história de Maria Agusta e suas duas amigas: Maria José e Maria Glória, daí o título. Apelido fornecido por uma freira do colégio interno, ao ver o quão próximas eram as amigas.
Confesso que não leio muita literatura nacional, mas gostei desse livro. Ele foi indicação de Novembro na TAG-Experiências Literárias. E, muito embora, a autora Rachel de Queiroz não se considerasse uma feminista, o que é compreensível pela época que o livro foi escrito (1939), ela fala bastante sobre como era ser mulher nessa época. O livro é sobre mulheres né e pelo que a curadora informou na revistinha da TAG, é um livro bem autobiográfico também, sendo possível perceber traços da própria rachel na personagem, bem como de suas amigas da época de escola.
Não há muita coisa para falar sobre o livro em si, pois ele aborda a história dessas meninas desde a infância até a idade adulta, falando sobre suas dores, seus amores e suas percepções sobre o mundo que as cerca. É um livro bom.
Tem resenha sobre ele no Canal: C.thiari - Books Anatomy e você pode conferir clicando aqui!


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As alegrias da Maternidade e a estrutura patriarcal



As Alegrias da Maternidade, livro da autora inédita no Brasil, foi trazido pela TAG-Experiências Literárias na indicação de outubro.
Uma das coisas que gosto sobre a TAG-Experiências Literárias é o fato de que não são livros óbvios e poucos deles, eu de fato faria a escolha de ler. Sou assinante e como todos estava super empolgada com o livro de outubro, pois seria indicação da Chimamanda, já falei sobre os livros dela aqui. Ao receber o livro, fiquei bem desapontada, pois o título era: As alegrias da maternidade.
Qualquer pessoa que me conheça, sabe que se eu tenho uma certeza na vida é de que não quero ter filhos. Não é que eu odeie crianças, na verdade eu as adoro, trabalho com elas, inclusive. Porém, essa coisa da maternidade (talvez por ser algo que a sociedade tenta nos impor com tanta violência), nunca foi algo que tenha reverberado em mim. Para além disso, a ideia de ser responsável por alguém além de mim (sim, sei que soa egoísta) não me aprazia.
Dito isso, vi aquele livro que em si parecia meio rústico, com um tema que não me agradava parado diante de mim e sem me proporcionar qualquer que seja a vontade de ler.
Obviamente nunca se deve julgar um livro pela capa (ou pelo tema). Li a revista que vem junto com o livro, que ainda assim não me despertou a vontade, mas dei inicio a leitura assim mesmo, e Oh meu deus, como estava enganada sobre o que continha essas páginas.
Já no ínicio fui apresentada a uma realidade diferente, uma cultura cercada por suas peculiaridades e isso me atraiu.
A medida em que fui realizando a leitura me dei conta de que ali havia uma preciosidade. Uma crítica sobre o papel da mulher na sociedade, sobre a romantização da maternidade e pensei: Yes, bitch! My kind a book.
Mas tenho uma coisa a confessar: não foi um livro fácil de ler, foi um livro muito desconfortável, principalmente por tratar de temas que me são muito caros. O sofrimento e a angustia vivenciada pela personagem  e o fato de ela entender aquilo como condição de sua existência feminina é um soco no estomago. E isso sim, trouxe muitas reverberações em mim. E por isso, no meio do caminho, precisei fazer várias paradas para pensar sobre a mensagem que o livro trazia, a realidade que ele nos apresentava.
O livro conta a história de Nhu Ego, filha de um chefe tribal e de uma mulher chamada Ona, eles pertencem a etnia Igbo (a maior na nigéria) e por costume entregam as mulheres ao casamento e recebem dotes por elas. As mulheres tem um papel determinado nessa sociedade tribal que é o de dar filhos, de preferência homens, para perpetuar o nome de seus maridos. Esse livro é basicamente sobre a romantização da maternidade, a sociedade patriarcal e o custo que isso representa para as mulheres.
Nhu Ego, nossa personagem principal estava ali para cumprir seu papel na sociedade, que era o de ser  mãe. Não experienciar das alegrias da maternidade (que diziam ser a alegria de dar tudo aos filhos, inclusive sua vida se assim o desejarem) não era uma opção. A primeiro momento ao não conseguir corresponder o que a sociedade esperava dela, Nhu Ego quis a morte, pois o que é a mulher se não consegue ser mãe? Como ela mesma trouxe em determinado momento: Quando é que Deus irá criar uma mulher que se sinta plena e não um apêndice de alguém? Nós mulheres corroboramos com o sistema que privilegia homens e discrimina mulheres por serem mulheres e enquanto não mudarmos isso, este mundo, continuará sendo um mundo de homens.
Eu não tenho palavras para expressar o presente que foi esse livro, fiz uma resenha dele no meu canal do youtube: C.Thiari - Book's Anatomy, inscreva-se e receba atualização sobre as resenhas novas.



quinta-feira, 9 de novembro de 2017

O Maravilhoso e incrível: O Conto da Aia

Imagem de divulgação do livro

Sinceramente me faltam palavras para descrever o quão incrível é este livro. O conto da Aia (The Handmaid's Tale), livro escrito pela canadense Margaret Atwood tornou-se um fenômeno no mundo inteiro e esteve na lista de bestsellers no ano de 2016.
O livro trata de uma sociedade distópica pós - guerra, na qual a fertilidade das mulheres foi seriamente prejudicada em razão do lixo tóxico da guerra e raros bebês nascem, o que significa que a população está diminuindo.  Então congressistas (homens) decidem tomar o poder e estabelecer um novo regime. A instalação desse regime é gradualmente e de repente, num momento as fronteiras estão sendo vigiadas para o próprio bem das pessoas, no momento seguinte, as mulheres não tem mais direito a posse. Quando percebem o que está acontecendo muitos protestam (mas afinal eles sempre fazem isso né?), mas o novo regime instaurado arrebanha todas as mulheres e as cataloga como férteis e não férteis. A sociedade é então dividida em castas e às mulheres férteis é dada a função de produzir bebês. Seu útero, Seu corpo não lhes pertence mais, pertence ao Estado para deles se dispor como desejar. E isso é tão verdade que as Aias deixam de ter direito ao próprio nome e passam a ser chamadas de Of+nome do comandante para quem são destinadas à procriar. No caso de nossa Personagem narradora, ela recebe o nome de Offred.
Os congressistas utilizam da religião para justificar  o controle social e suas incursões aos corpos das mulheres. Em especial uma passagem da bíblia serve de pano de fundo para a monstruosidade que é esse novo regime. É uma passagem de Gênesis 30:3, na qual Raquel, resignada por não poder dar filhos à Jacó diz a ele: "Eis aqui minha serva Bila; Coabita com ela, para que dê à luz sobre meus joelhos, e eu assim receba filhos por ela."
Com essa passagem inicia-se o que eles chamam de "cerimônia", na qual a Aia sobre os joelhos das esposas é submetida ao ato sexual com a finalidade de que ela gere os filhos que a esposa não pode gerar.
Vejam só, o livro em questão foi escrito em 1985 e embora seja uma sociedade distópica, ele é assustadoramente real. É um livro extremamente desconfortável, que incomoda e nos faz refletir. Enquanto eu lia o livro, dei-me conta que as frases soltas sobre o regime vivenciado, sobre como a personagem se sente eu leio todos os dias em comentários machistas e misóginos na Internet, nem precisamos ir tão longe, recentemente foi aprovada na comissão da Câmara dos Deputados o Texto da PEC 181, que dentre outras coisas, determina que a vida começa na concepção. Tal texto vem como uma cavalo de troia e ataca a espinha dorsal do direito ao aborto, mesmo nos casos previstos em lei.
A passividade pela qual a personagem vivencia a própria história, nos coloca frente à nossa própria passividade. Quem seríamos nessa história? como vivenciaríamos isso? Esquecemos tão rápido de quem somos, quando não há nada que podemos ser. O que temos feito para garantir que nossos direitos não sejam toldados? Nosso útero está deixando de nos pertencer.
Importante mencionar que a plataforma de streaming HULU fez uma série com o nome original: Handmaid's Tale e a série também é maravilhosa, embora a personagem na série seja mais ativa que a do livro. Mas sério, eu tenho pesadelos acordada com esse novo regime, pois vejo um futuro e ele é tão handmaid's tale que dá medo.

domingo, 5 de novembro de 2017

Hibisco roxo - Indicação para a Vida.



Hibisco Roxo é um desses livros que a gente sente prazer ao indicar para os outros. E mais que isso, sente que é necessária a leitura e a reflexão sobre os temas trazidos. Chimamanda Ngozi Adichie, é uma autora que está em alta e não por acaso, ela traz temas muito complexos, polêmicos e necessários dentro da nossa sociedade que tem cada vez mais feito uma imersão no Conservadorismo (e isso me assusta para caralho).
Não é segredo que houve uma explosão de publicações dela no Brasil, embora com vergonha eu reconheça que li (por enquanto) apenas este Livro e aquele que foi transformado a partir da palestra dela no TED  e que foi nomeado como Sejamos Todos Feministas (maravilhoso, inclusive) e a Editora Companhia das Letras disponibiliza o ebook free aqui.
Ela fala sobre a necessidade de discutir a socialização, de discutir o gênero e é engraçado que enquanto escrevia sobre isso, estava conversando com o meu irmão sobre como  o Hibisco Roxo é fantástico e como todos deveriam ler e disse: inclusive a autora tem uma palestra no youtube chamada sejamos todos feministas e aí ele me disse: Ela é feminista? e eu disse: sim. E ele me devolveu, explica-me uma coisa, por que vocês mulheres se chamam de feministas e eu não posso me chamar de machista. Momento Poker face para mim que já imaginava que esse assunto era sedimentado pelo menos dentro da minha casa. Respirei e disse: Porque o machismo não é o antônimo de feminismo. O machismo é um sistema opressor, no qual o homem domina socialmente a mulher e o feminismo é uma ideologia que busca a equidade. E ele disse: Então por que vocês não usaram outro termo para se denominar. E eu prossegui: É um termo de contracultura e sua intenção é ser um coeficiente de luta e oposição ao termo machismo.
Duvido que ele tenha entendido, o que eu tenha sido tão clara como na escrita aqui, mas me fez pensar que a socialização não falha. Principalmente, porque é difícil para um homem imaginar que um discurso feminista é necessário. E isso só torna a necessidade de se disseminar conteúdos como o Hibisco Roxo ainda mais urgente.
Dito isso, voltemos ao livro. Ele conta a história de uma família Nigeriana que me parece ser de classe média alta ou mesmo classe alta e ele é contado sobre o ponto de vista de Kambili, filha mais nova.
A história mostra como a colonização branca influenciou no pensamento e na cultura do povo, principalmente do ponto de vista religioso. O pai de Kambili, Eugene, é um das pessoas que abraçaram a religião cristã em detrimento da sua própria cultura religiosa e faz uso não apenas da fé, mas do pavor que vem com ela, da tirania religiosa como forma de justificar a punição. Com a função social de homem rico, reto e justo, Eugene veste a máscara social da retidão, da caridade e de alguém digno de ser admirado, cujo caráter não pode ter arranhões. Sua família, por outro lado, precisa corresponder a essa imagem social do pai, não lhes sendo permitido falhar. Suas falhas são punidas de forma excruciante.
Eugene em muitos pontos me trouxe à memória, algo que Reich falava sobre a análise de caráter, sobre como funcionamos de um jeito e nos comportamos de outro. E que o esforço realizado para manter o personagem (a máscara social) na verdade revela que somos muito mais identificados com a sombra que seriam as exigências sociais (conheço pouco de Reich, posso inclusive estar falando bobagem). Mas a ideia de que a rigidez é algo que a gente vê no outro por mais que ele tente mostrar o contrário, sempre foi muito intrigante para mim. Sabe, aquela pessoa que tenta passar a imagem de desconstruidão, mas que o caráter é conservador e isso você percebe na forma de se portar, nas palavras que usa, no jeito de andar, porque essa rigidez se reflete nos músculos do corpo. Enfim, Eugene é essa pessoa que usa a fé para justificar suas ações, sejam elas boas ou ruins.
Dentre outros temas, o livro fala bastante sobre a questão da socialização, Eugene não é assim porque aderiu a fé cristã, ele é assim porque na cultura patriarcal em que foi criado, ser Homem lhe dá o direito de considerar seus filhos e sua esposa como sua propriedade e deles se dispor como desejar.
Por outro lado tem Ifeoma, irmã de Eugene, professora universitária e completamente diferente do irmão, em questão social e afetiva. É nela que Kambili e Jajá (irmão) encontram refúgio e começam a descobrir uma outra forma de existir, uma na qual não precisam ter medo nem do pai, nem do além túmulo. Inclusive de descoberta da própria cultura. Ifeoma representa a ruptura desse ideal paternalista. Aliás, o título do livro, é sobre esse momento, sobre o que ele representa.
É muito interessante olhar a cultura em que os personagens estão inseridos e suas percepções a partir da mesma. Sobre como Kambili acredita que é justificado o que lhe é feito ou ordenado.
O livro trata sobre violência doméstica e muitas vezes de forma brutal. Não é um livro fácil de ler, não é um livro confortável, mas é um livro necessário.
E é um livro necessário, porque na nossa mente a violência doméstica ainda é culpa de quem sofre, raramente há uma reflexão mais profunda de como isso é um processo social no qual agressor e agredida repetem um padrão. Presos num ciclo vicioso que tem profunda ligação com as representações sociais de ser mulher ou homem, de seu papel na sociedade, da classe social, da violência estrutural e de como isso influência suas vivências. 
E como eu já disse, em outras oportunidades, novas teorias e necessidades de adequação surgem pra corresponder a um ponto de ruptura da realidade.
E por isso é importante refletir constantemente sobre gênero, sobre violência, sobre socialização. É importante porque nossas diferenças vão muito além do biológico. Somos seres sociais e como tais somos condicionados por regras socialmente estabelecidas. E por termos uma história pautada no patriarcalismo, significa assumir que essas regras não são justas para todos.

Tem resenha no canal do youtube: neste link aqui aproveita e dá um like e se inscreve no canal.




sábado, 4 de novembro de 2017

Dois Irmãos - Muito mais que uma história sobre o bem e o mal


imagem promocional do livro

O livro Dois Irmãos - Milton Hatoum é a história de dois irmãos gêmeos numa família libanesa, a relação conturbada dos dois desde muito cedo, a forma que a família lida com essa relação e as descobertas sobre quem se é e quem gostaria de ser. Os irmãos:Omar e Yaqub, possuem personalidade diferentes, enquanto um é tempestade o outro é calmaria. Num momento em que há uma briga mais séria, embora o culpado tenha sido Omar, é Yaqub que é mandado para longe da família.
Recebi esse livro para ler de um projeto de Livro Viajante que estou participando e não é uma escolha obvia para mim, pois a capa não me agrada, a história no primeiro momento parece com muitas que já li antes, mas me surpreendeu positivamente.
Esse livro me transportou direto para Manaus, atiçando minhas memórias da última vez em que estive lá, as pessoas, o cheiro, a comida, o lugar. Gosto tanto quando o livro me transporta para o lugar, quando a leitura é visual e em mim teve esse efeito.
Durante a leitura as relações estabelecidas pelos personagens foram o que mais me chamou a atenção. Principalmente a relação abusiva entre mãe e filho, importante ressaltar que quando digo abusiva, refiro-me é claro à dinâmica da relação.
Obviamente ao se analisar tal dinâmica, não se pode deixar de levar em consideração a cultura em que ela ocorre. No caso, embora parte dos personagens sejam manauaras, sua ascendência é Libanesa. E o pouco que sei da cultura árabe (bem estereótipo) sugere essa ligação familiar mais profunda ao ponto que os papeis se confundem.
Porém, existe atenuantes para a ação da mãe em relação ao filho. E, aqui, já peço desculpa para quem lê pela minha breve análise psicológica do livro (que não será tão esmiuçada até para não cansar), mas como diria Freud, a gente não tem como tirar o pincenê ao analisar o que quer que seja, pois nossas ações são constituídas a partir da nossa visão de mundo. E esse livro suscitou inúmeras assimilações do meu ponto de vista profissional.
Dito isso, a mãe ao engravidar cria um ideal de bebê. E esse ideal não foi correspondido no que se refere ao caçula, pois nasceu doente e frustrou o desejo dessa mãe, que em razão da culpa dessa frustração, passou a realizar movimentos no sentido de recompensar essa criança (isso não acontece no nível consciente);
A questão central é que, a grosso modo, A mãe que não frustra seu bebê, preserva nele a sensação de onipotência e todos sabemos que crianças que não escutam bons, firmes e justos nãos, crescem sem saber que existem limites. E o Omar é a construção desse sujeito que não tendo a lei do pai para freá-lo passa a usar o mundo e as pessoas como representação de seu prazer. Tudo lhe é permitido, qualquer consequência é sempre atenuada. 
A verdade, é que a primeiro momento, esse livro bem poderia ser sobre o gêmeo bom e o ruim, essa rivalidade dicotômica que tantas histórias já exploraram antes, porém sua natureza é mais complexa.


Embora, a primeiro momento, Yaqub assuma esse arquétipo de bom e o caçula assuma o de mau, percebemos que as ações de Yaqub são movidas por vingança, o seu distanciamento da família é na verdade a tentativa de se desassociar dessa família que primeiro o rejeitou (sobre o sentimento de ser enviado ao Líbano). E fiquei com a sensação que de fato Yaqub planejou o último momento do livro, sua não reação, na verdade foi premeditada a fim de justificar sua punição ao irmão. 

Gostei muito do livro e não é uma leitura que eu escolheria, então valeu a pena conhecer.