Viva e deixe viver...

Viver é como estar constantemente no "país das maravilhas", por isso estou sempre no limite da razão, porque a vida é bela, insana e incerta, e como diria um cantor: " depende de como você a vê..."

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Sagrado Coração (Cuore Sacro) - sobre análises e opiniões

Sagrado Coração é um filme italiano de 2005, o filme relata a história de Irene, uma empresária ambiciosa que muitas vezes usa de modos inescrupulosos para alcançar seus objetivos, culminando no suicídio de dois amigos. Após a morte deles, ela vai para sua casa de infância, um palacete antigo, que ela pretende transformar em prédios comerciais, lá chegando ela tem um encontro inusitado com uma garota chamada Benny, uma pequena ladra que chega para desarrumar a vida de Irene, a partir daí ela passa a ter uma outra visão do mundo.
Benny é talvez a personagem mais marcante nesse filme, tem um status questionador e nos faz pensar no papel do psicólogo, pois é justamente Benny que faz o papel de abrir portas fechadas na mente de Irene, de fazer com que Irene se questione a respeito das próprias certezas, ela é quem provoca as mudanças na vida de Irene.
Dentro dessa linha de pensamento, o filme traz na figura de Benny, um questionamento a respeito dos valores morais da sociedade, pois há um contraste nessa personagem que ao mesmo tempo em que rouba, ajuda as pessoas mais necessitadas, colocando em xeque a diferença entre o bem e o mal, nos levando a confrontar não apenas o peso que atribuímos a esses valores, mas a veracidade em sua essência.
Quando Irene passa a confrontar os próprios valores, ela deixa de se reconhecer no seu discurso e na sua própria imagem, e passa a buscar através da caridade a redenção. O ponto alto do filme é justamente esse “fazer caridade” de Irene, e nos põe um questionamento: Irene realmente quer ajudar as pessoas, ou isso é uma tentativa de se punir?
A impressão que se tem é que Irene está seguindo passos da mãe, o tempo todo, ela busca pela mãe, seja quando tenta imprimir significados na escrita das paredes do quarto da mãe ou quando clama por ela numa tentativa desesperada de se entender, e isso se reforça quando ela pergunta a Aurélio se a mãe de fato cometeu suicídio, talvez numa tentativa de saber como ela própria iria terminar.
Uma questão interessante é que as personagens de peso do filme são mulheres, numa referência a Maria e a todas as mulheres que sofreram antes dela. Inclusive após o surto de Irene, no consultório quando a psiquiatra pergunta por seu nome, Irene responde que ela é todas as mulheres, porque conhece o sofrimento delas.
Há um diálogo no filme que se faz presente, por trazer um significado da diferença entre simpatia e empatia. No momento em que Irene vê uma planta no consultório, e estabelece o seguinte diálogo com a psiquiatra:
 - Que planta é essa?
- Eu não sei o nome dessa planta.
- Mas você cuidou dela?
- Sim.
É um pequeno trecho que reforça que se pode ajudar o outro, se colocar no lugar dele, mas é necessário voltar ao seu próprio lugar.
O filme traz referências com relação à imagem do psicólogo enquanto questionador e/ou provocador, bem como, co-relações com a subjetividade e o self, nos trazendo a forma desses personagens se relacionarem com o mundo e como esse mundo os afeta.

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