Benny é talvez a personagem mais marcante nesse filme, tem um status
questionador e nos faz pensar no papel do psicólogo, pois é justamente Benny que
faz o papel de abrir portas fechadas na mente de Irene, de fazer com que Irene
se questione a respeito das próprias certezas, ela é quem provoca as mudanças
na vida de Irene.
Dentro dessa linha de pensamento, o filme traz na figura de Benny, um
questionamento a respeito dos valores morais da sociedade, pois há um contraste
nessa personagem que ao mesmo tempo em que rouba, ajuda as pessoas mais
necessitadas, colocando em xeque a diferença entre o bem e o mal, nos levando a
confrontar não apenas o peso que atribuímos a esses valores, mas a veracidade
em sua essência.
Quando Irene passa a confrontar os próprios valores, ela deixa de se
reconhecer no seu discurso e na sua própria imagem, e passa a buscar através da
caridade a redenção. O ponto alto do filme é justamente esse “fazer caridade” de
Irene, e nos põe um questionamento: Irene realmente quer ajudar as pessoas, ou
isso é uma tentativa de se punir?
A impressão que se tem é que Irene está seguindo passos da mãe, o tempo
todo, ela busca pela mãe, seja quando tenta imprimir significados na escrita
das paredes do quarto da mãe ou quando clama por ela numa tentativa desesperada
de se entender, e isso se reforça quando ela pergunta a Aurélio se a mãe de
fato cometeu suicídio, talvez numa tentativa de saber como ela própria iria
terminar.
Uma questão interessante é que as personagens de peso do filme são
mulheres, numa referência a Maria e a todas as mulheres que sofreram antes
dela. Inclusive após o surto de Irene, no consultório quando a psiquiatra pergunta
por seu nome, Irene responde que ela é todas as mulheres, porque conhece o
sofrimento delas.
Há um diálogo no filme que se faz presente, por trazer um significado da
diferença entre simpatia e empatia. No momento em que Irene vê uma planta no
consultório, e estabelece o seguinte diálogo com a psiquiatra:
- Que planta é essa?
- Eu não sei o nome dessa planta.
- Mas você cuidou dela?
- Sim.
É um pequeno trecho que reforça que se pode ajudar o outro, se colocar no
lugar dele, mas é necessário voltar ao seu próprio lugar.
O filme traz referências com relação à imagem do psicólogo enquanto
questionador e/ou provocador, bem como, co-relações com a subjetividade e o
self, nos trazendo a forma desses personagens se relacionarem com o mundo e
como esse mundo os afeta.
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