Viva e deixe viver...

Viver é como estar constantemente no "país das maravilhas", por isso estou sempre no limite da razão, porque a vida é bela, insana e incerta, e como diria um cantor: " depende de como você a vê..."

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

As alegrias da Maternidade e a estrutura patriarcal



As Alegrias da Maternidade, livro da autora inédita no Brasil, foi trazido pela TAG-Experiências Literárias na indicação de outubro.
Uma das coisas que gosto sobre a TAG-Experiências Literárias é o fato de que não são livros óbvios e poucos deles, eu de fato faria a escolha de ler. Sou assinante e como todos estava super empolgada com o livro de outubro, pois seria indicação da Chimamanda, já falei sobre os livros dela aqui. Ao receber o livro, fiquei bem desapontada, pois o título era: As alegrias da maternidade.
Qualquer pessoa que me conheça, sabe que se eu tenho uma certeza na vida é de que não quero ter filhos. Não é que eu odeie crianças, na verdade eu as adoro, trabalho com elas, inclusive. Porém, essa coisa da maternidade (talvez por ser algo que a sociedade tenta nos impor com tanta violência), nunca foi algo que tenha reverberado em mim. Para além disso, a ideia de ser responsável por alguém além de mim (sim, sei que soa egoísta) não me aprazia.
Dito isso, vi aquele livro que em si parecia meio rústico, com um tema que não me agradava parado diante de mim e sem me proporcionar qualquer que seja a vontade de ler.
Obviamente nunca se deve julgar um livro pela capa (ou pelo tema). Li a revista que vem junto com o livro, que ainda assim não me despertou a vontade, mas dei inicio a leitura assim mesmo, e Oh meu deus, como estava enganada sobre o que continha essas páginas.
Já no ínicio fui apresentada a uma realidade diferente, uma cultura cercada por suas peculiaridades e isso me atraiu.
A medida em que fui realizando a leitura me dei conta de que ali havia uma preciosidade. Uma crítica sobre o papel da mulher na sociedade, sobre a romantização da maternidade e pensei: Yes, bitch! My kind a book.
Mas tenho uma coisa a confessar: não foi um livro fácil de ler, foi um livro muito desconfortável, principalmente por tratar de temas que me são muito caros. O sofrimento e a angustia vivenciada pela personagem  e o fato de ela entender aquilo como condição de sua existência feminina é um soco no estomago. E isso sim, trouxe muitas reverberações em mim. E por isso, no meio do caminho, precisei fazer várias paradas para pensar sobre a mensagem que o livro trazia, a realidade que ele nos apresentava.
O livro conta a história de Nhu Ego, filha de um chefe tribal e de uma mulher chamada Ona, eles pertencem a etnia Igbo (a maior na nigéria) e por costume entregam as mulheres ao casamento e recebem dotes por elas. As mulheres tem um papel determinado nessa sociedade tribal que é o de dar filhos, de preferência homens, para perpetuar o nome de seus maridos. Esse livro é basicamente sobre a romantização da maternidade, a sociedade patriarcal e o custo que isso representa para as mulheres.
Nhu Ego, nossa personagem principal estava ali para cumprir seu papel na sociedade, que era o de ser  mãe. Não experienciar das alegrias da maternidade (que diziam ser a alegria de dar tudo aos filhos, inclusive sua vida se assim o desejarem) não era uma opção. A primeiro momento ao não conseguir corresponder o que a sociedade esperava dela, Nhu Ego quis a morte, pois o que é a mulher se não consegue ser mãe? Como ela mesma trouxe em determinado momento: Quando é que Deus irá criar uma mulher que se sinta plena e não um apêndice de alguém? Nós mulheres corroboramos com o sistema que privilegia homens e discrimina mulheres por serem mulheres e enquanto não mudarmos isso, este mundo, continuará sendo um mundo de homens.
Eu não tenho palavras para expressar o presente que foi esse livro, fiz uma resenha dele no meu canal do youtube: C.Thiari - Book's Anatomy, inscreva-se e receba atualização sobre as resenhas novas.



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