Viva e deixe viver...

Viver é como estar constantemente no "país das maravilhas", por isso estou sempre no limite da razão, porque a vida é bela, insana e incerta, e como diria um cantor: " depende de como você a vê..."

quinta-feira, 9 de novembro de 2017

O Maravilhoso e incrível: O Conto da Aia

Imagem de divulgação do livro

Sinceramente me faltam palavras para descrever o quão incrível é este livro. O conto da Aia (The Handmaid's Tale), livro escrito pela canadense Margaret Atwood tornou-se um fenômeno no mundo inteiro e esteve na lista de bestsellers no ano de 2016.
O livro trata de uma sociedade distópica pós - guerra, na qual a fertilidade das mulheres foi seriamente prejudicada em razão do lixo tóxico da guerra e raros bebês nascem, o que significa que a população está diminuindo.  Então congressistas (homens) decidem tomar o poder e estabelecer um novo regime. A instalação desse regime é gradualmente e de repente, num momento as fronteiras estão sendo vigiadas para o próprio bem das pessoas, no momento seguinte, as mulheres não tem mais direito a posse. Quando percebem o que está acontecendo muitos protestam (mas afinal eles sempre fazem isso né?), mas o novo regime instaurado arrebanha todas as mulheres e as cataloga como férteis e não férteis. A sociedade é então dividida em castas e às mulheres férteis é dada a função de produzir bebês. Seu útero, Seu corpo não lhes pertence mais, pertence ao Estado para deles se dispor como desejar. E isso é tão verdade que as Aias deixam de ter direito ao próprio nome e passam a ser chamadas de Of+nome do comandante para quem são destinadas à procriar. No caso de nossa Personagem narradora, ela recebe o nome de Offred.
Os congressistas utilizam da religião para justificar  o controle social e suas incursões aos corpos das mulheres. Em especial uma passagem da bíblia serve de pano de fundo para a monstruosidade que é esse novo regime. É uma passagem de Gênesis 30:3, na qual Raquel, resignada por não poder dar filhos à Jacó diz a ele: "Eis aqui minha serva Bila; Coabita com ela, para que dê à luz sobre meus joelhos, e eu assim receba filhos por ela."
Com essa passagem inicia-se o que eles chamam de "cerimônia", na qual a Aia sobre os joelhos das esposas é submetida ao ato sexual com a finalidade de que ela gere os filhos que a esposa não pode gerar.
Vejam só, o livro em questão foi escrito em 1985 e embora seja uma sociedade distópica, ele é assustadoramente real. É um livro extremamente desconfortável, que incomoda e nos faz refletir. Enquanto eu lia o livro, dei-me conta que as frases soltas sobre o regime vivenciado, sobre como a personagem se sente eu leio todos os dias em comentários machistas e misóginos na Internet, nem precisamos ir tão longe, recentemente foi aprovada na comissão da Câmara dos Deputados o Texto da PEC 181, que dentre outras coisas, determina que a vida começa na concepção. Tal texto vem como uma cavalo de troia e ataca a espinha dorsal do direito ao aborto, mesmo nos casos previstos em lei.
A passividade pela qual a personagem vivencia a própria história, nos coloca frente à nossa própria passividade. Quem seríamos nessa história? como vivenciaríamos isso? Esquecemos tão rápido de quem somos, quando não há nada que podemos ser. O que temos feito para garantir que nossos direitos não sejam toldados? Nosso útero está deixando de nos pertencer.
Importante mencionar que a plataforma de streaming HULU fez uma série com o nome original: Handmaid's Tale e a série também é maravilhosa, embora a personagem na série seja mais ativa que a do livro. Mas sério, eu tenho pesadelos acordada com esse novo regime, pois vejo um futuro e ele é tão handmaid's tale que dá medo.

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