Viva e deixe viver...

Viver é como estar constantemente no "país das maravilhas", por isso estou sempre no limite da razão, porque a vida é bela, insana e incerta, e como diria um cantor: " depende de como você a vê..."

sábado, 4 de novembro de 2017

Dois Irmãos - Muito mais que uma história sobre o bem e o mal


imagem promocional do livro

O livro Dois Irmãos - Milton Hatoum é a história de dois irmãos gêmeos numa família libanesa, a relação conturbada dos dois desde muito cedo, a forma que a família lida com essa relação e as descobertas sobre quem se é e quem gostaria de ser. Os irmãos:Omar e Yaqub, possuem personalidade diferentes, enquanto um é tempestade o outro é calmaria. Num momento em que há uma briga mais séria, embora o culpado tenha sido Omar, é Yaqub que é mandado para longe da família.
Recebi esse livro para ler de um projeto de Livro Viajante que estou participando e não é uma escolha obvia para mim, pois a capa não me agrada, a história no primeiro momento parece com muitas que já li antes, mas me surpreendeu positivamente.
Esse livro me transportou direto para Manaus, atiçando minhas memórias da última vez em que estive lá, as pessoas, o cheiro, a comida, o lugar. Gosto tanto quando o livro me transporta para o lugar, quando a leitura é visual e em mim teve esse efeito.
Durante a leitura as relações estabelecidas pelos personagens foram o que mais me chamou a atenção. Principalmente a relação abusiva entre mãe e filho, importante ressaltar que quando digo abusiva, refiro-me é claro à dinâmica da relação.
Obviamente ao se analisar tal dinâmica, não se pode deixar de levar em consideração a cultura em que ela ocorre. No caso, embora parte dos personagens sejam manauaras, sua ascendência é Libanesa. E o pouco que sei da cultura árabe (bem estereótipo) sugere essa ligação familiar mais profunda ao ponto que os papeis se confundem.
Porém, existe atenuantes para a ação da mãe em relação ao filho. E, aqui, já peço desculpa para quem lê pela minha breve análise psicológica do livro (que não será tão esmiuçada até para não cansar), mas como diria Freud, a gente não tem como tirar o pincenê ao analisar o que quer que seja, pois nossas ações são constituídas a partir da nossa visão de mundo. E esse livro suscitou inúmeras assimilações do meu ponto de vista profissional.
Dito isso, a mãe ao engravidar cria um ideal de bebê. E esse ideal não foi correspondido no que se refere ao caçula, pois nasceu doente e frustrou o desejo dessa mãe, que em razão da culpa dessa frustração, passou a realizar movimentos no sentido de recompensar essa criança (isso não acontece no nível consciente);
A questão central é que, a grosso modo, A mãe que não frustra seu bebê, preserva nele a sensação de onipotência e todos sabemos que crianças que não escutam bons, firmes e justos nãos, crescem sem saber que existem limites. E o Omar é a construção desse sujeito que não tendo a lei do pai para freá-lo passa a usar o mundo e as pessoas como representação de seu prazer. Tudo lhe é permitido, qualquer consequência é sempre atenuada. 
A verdade, é que a primeiro momento, esse livro bem poderia ser sobre o gêmeo bom e o ruim, essa rivalidade dicotômica que tantas histórias já exploraram antes, porém sua natureza é mais complexa.


Embora, a primeiro momento, Yaqub assuma esse arquétipo de bom e o caçula assuma o de mau, percebemos que as ações de Yaqub são movidas por vingança, o seu distanciamento da família é na verdade a tentativa de se desassociar dessa família que primeiro o rejeitou (sobre o sentimento de ser enviado ao Líbano). E fiquei com a sensação que de fato Yaqub planejou o último momento do livro, sua não reação, na verdade foi premeditada a fim de justificar sua punição ao irmão. 

Gostei muito do livro e não é uma leitura que eu escolheria, então valeu a pena conhecer.

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