Viva e deixe viver...

Viver é como estar constantemente no "país das maravilhas", por isso estou sempre no limite da razão, porque a vida é bela, insana e incerta, e como diria um cantor: " depende de como você a vê..."

domingo, 5 de novembro de 2017

Hibisco roxo - Indicação para a Vida.



Hibisco Roxo é um desses livros que a gente sente prazer ao indicar para os outros. E mais que isso, sente que é necessária a leitura e a reflexão sobre os temas trazidos. Chimamanda Ngozi Adichie, é uma autora que está em alta e não por acaso, ela traz temas muito complexos, polêmicos e necessários dentro da nossa sociedade que tem cada vez mais feito uma imersão no Conservadorismo (e isso me assusta para caralho).
Não é segredo que houve uma explosão de publicações dela no Brasil, embora com vergonha eu reconheça que li (por enquanto) apenas este Livro e aquele que foi transformado a partir da palestra dela no TED  e que foi nomeado como Sejamos Todos Feministas (maravilhoso, inclusive) e a Editora Companhia das Letras disponibiliza o ebook free aqui.
Ela fala sobre a necessidade de discutir a socialização, de discutir o gênero e é engraçado que enquanto escrevia sobre isso, estava conversando com o meu irmão sobre como  o Hibisco Roxo é fantástico e como todos deveriam ler e disse: inclusive a autora tem uma palestra no youtube chamada sejamos todos feministas e aí ele me disse: Ela é feminista? e eu disse: sim. E ele me devolveu, explica-me uma coisa, por que vocês mulheres se chamam de feministas e eu não posso me chamar de machista. Momento Poker face para mim que já imaginava que esse assunto era sedimentado pelo menos dentro da minha casa. Respirei e disse: Porque o machismo não é o antônimo de feminismo. O machismo é um sistema opressor, no qual o homem domina socialmente a mulher e o feminismo é uma ideologia que busca a equidade. E ele disse: Então por que vocês não usaram outro termo para se denominar. E eu prossegui: É um termo de contracultura e sua intenção é ser um coeficiente de luta e oposição ao termo machismo.
Duvido que ele tenha entendido, o que eu tenha sido tão clara como na escrita aqui, mas me fez pensar que a socialização não falha. Principalmente, porque é difícil para um homem imaginar que um discurso feminista é necessário. E isso só torna a necessidade de se disseminar conteúdos como o Hibisco Roxo ainda mais urgente.
Dito isso, voltemos ao livro. Ele conta a história de uma família Nigeriana que me parece ser de classe média alta ou mesmo classe alta e ele é contado sobre o ponto de vista de Kambili, filha mais nova.
A história mostra como a colonização branca influenciou no pensamento e na cultura do povo, principalmente do ponto de vista religioso. O pai de Kambili, Eugene, é um das pessoas que abraçaram a religião cristã em detrimento da sua própria cultura religiosa e faz uso não apenas da fé, mas do pavor que vem com ela, da tirania religiosa como forma de justificar a punição. Com a função social de homem rico, reto e justo, Eugene veste a máscara social da retidão, da caridade e de alguém digno de ser admirado, cujo caráter não pode ter arranhões. Sua família, por outro lado, precisa corresponder a essa imagem social do pai, não lhes sendo permitido falhar. Suas falhas são punidas de forma excruciante.
Eugene em muitos pontos me trouxe à memória, algo que Reich falava sobre a análise de caráter, sobre como funcionamos de um jeito e nos comportamos de outro. E que o esforço realizado para manter o personagem (a máscara social) na verdade revela que somos muito mais identificados com a sombra que seriam as exigências sociais (conheço pouco de Reich, posso inclusive estar falando bobagem). Mas a ideia de que a rigidez é algo que a gente vê no outro por mais que ele tente mostrar o contrário, sempre foi muito intrigante para mim. Sabe, aquela pessoa que tenta passar a imagem de desconstruidão, mas que o caráter é conservador e isso você percebe na forma de se portar, nas palavras que usa, no jeito de andar, porque essa rigidez se reflete nos músculos do corpo. Enfim, Eugene é essa pessoa que usa a fé para justificar suas ações, sejam elas boas ou ruins.
Dentre outros temas, o livro fala bastante sobre a questão da socialização, Eugene não é assim porque aderiu a fé cristã, ele é assim porque na cultura patriarcal em que foi criado, ser Homem lhe dá o direito de considerar seus filhos e sua esposa como sua propriedade e deles se dispor como desejar.
Por outro lado tem Ifeoma, irmã de Eugene, professora universitária e completamente diferente do irmão, em questão social e afetiva. É nela que Kambili e Jajá (irmão) encontram refúgio e começam a descobrir uma outra forma de existir, uma na qual não precisam ter medo nem do pai, nem do além túmulo. Inclusive de descoberta da própria cultura. Ifeoma representa a ruptura desse ideal paternalista. Aliás, o título do livro, é sobre esse momento, sobre o que ele representa.
É muito interessante olhar a cultura em que os personagens estão inseridos e suas percepções a partir da mesma. Sobre como Kambili acredita que é justificado o que lhe é feito ou ordenado.
O livro trata sobre violência doméstica e muitas vezes de forma brutal. Não é um livro fácil de ler, não é um livro confortável, mas é um livro necessário.
E é um livro necessário, porque na nossa mente a violência doméstica ainda é culpa de quem sofre, raramente há uma reflexão mais profunda de como isso é um processo social no qual agressor e agredida repetem um padrão. Presos num ciclo vicioso que tem profunda ligação com as representações sociais de ser mulher ou homem, de seu papel na sociedade, da classe social, da violência estrutural e de como isso influência suas vivências. 
E como eu já disse, em outras oportunidades, novas teorias e necessidades de adequação surgem pra corresponder a um ponto de ruptura da realidade.
E por isso é importante refletir constantemente sobre gênero, sobre violência, sobre socialização. É importante porque nossas diferenças vão muito além do biológico. Somos seres sociais e como tais somos condicionados por regras socialmente estabelecidas. E por termos uma história pautada no patriarcalismo, significa assumir que essas regras não são justas para todos.

Tem resenha no canal do youtube: neste link aqui aproveita e dá um like e se inscreve no canal.




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